31/12/12

Crónica Feminina 13

Maria

Bom Ano de 2013!

2012

Os que falaram demais: Mário Soares, António Borges, Marinho Pinho, Miguel Relvas, Isabel Jonet, Baptista da Silva,

Os que falando demais continuam, hoje como ontem, a nada dizer: António José Seguro, Jorge Sampaio,

Os que falam sem nunca se lembrar do que disseram ontem: Pedro Passos Coelho, Victor Gaspar, François Hollande,

Os que falam sem fazer ideia do que estão a dizer, apesar das leituras juvenis: Pedro Passos Coelho,

Os que falam sem saber bem o que hão-de dizer, nem o que estão a dizer: Carlos Zorrinho,

Os que falam convencidos da importância do que dizem: José Manuel Durão Barroso,

Os que sabem falar bem no matter what, mesmo que não saibam o que fazer: Barak Obama,

Os que, tendo-nos habituado a que os ouçamos falar muito, falam agora bem menos: Paulo Portas, Luís Filipe Menezes,

Os que continuam a gostar de se ouvir falar, falar, falar, e que têm quem os ouça, ouça, ouça: Marcelo Rebelo de Sousa,

Os que falam pouco – verdade que também não se sabe o que poderiam dizer, pelo menos em público: Cavaco Silva,

Os que falam pouco – e ainda bem pois ninguém os quer ouvir nem deixaram saudades do que diziam quando falavam: José Sócrates,

Os que continuam a gostar de se ouvir falar, encrespados com o que dizem: Mário Crespo,

Os que falam e de quem se fala, sem que perceba porquê: Walter Hugo Mãe,

23/12/12

Feliz Natal

Um presépio cá de casa

Um Santo Natal para todos.
Pior do que “só há prenda para a mais nova. As outras já não são crianças” (via), é o discursozinho moralista, a mentalidade mesquinha e pequenina. Senhor Primeiro-ministro, apesar do descalabro socialista de Sócrates e dos rigores a que agora o seu governo nos obriga, devo conseguir arranjar uns euritos e vou consigo num instante à H&M, (por exemplo, mas que fique registado que não sou accionista, nem recebo comissão, nem nenhum interesse me liga a esta cadeia de lojas) comprar umas lembranças para as outras filhas e enteada. Coisas simples, giras e baratas, pode ser? Afinal é Natal, e elas vão gostar.

Um Retrato da UE

"Il n'y a eu aucune mesure prise en Belgique pour attirer un quelconque citoyen français", a déclaré le chef de la diplomatie belge sur RTL, perante a reacção do Primeiro-ministro francês à decisão de Gérard Depardieu de se mudar para a Bélgica e de obter um passaporte Belga. Toda uma polémica que se estalou em França, um país que se recusa a acreditar que, em primeiro lugar, haja franceses que possam querer sair de França (coisa que está a originar uma crise existencial francesa de dimensão exagerada e que parece ridícula), e em segundo lugar que haja alguém a romper uma mentalidade esquerdista dominante em que é normal aceitar que o equilíbrio das contas do estado se faça sempre através do aumento da carga fiscal. Basta, diz Depardieu para desespero do governo, e basta' dizem cada vez mais personalidades que simpatizam com Depardieu. 

Se algo começa a funcionar na UE é a concorrência a nivel fiscal e a nivel de emprego; as pessoas começam a mexer, virar costas e sair. Mercenários? Claro que não, limitam-se simplesmente a procurar o que é melhor para elas. 

Nós cá não temos disso; as nossas crises existenciais são prosaicas e simples - pouco dinheiro, maus políticos, falências, desemprego, corrupção. Nem nos lembramos que temos um umbigo quanto mais perdermos tempo a olhar para ele. Mas lembramos sim, com algum sabor amargo o nosso Primeiro-ministro e a sua ‘sugestão’ de emigração. E se não temos exactamente Depardieu, ou melhor, se os nossos actores não têm o salário de Depardieu, não ficamos atrás em talento e qualificação: temos cientistas, engenheiros, financeiros, gestores, enfermeiros, arquitectos, designers, informáticos, economistas, cantores, empresários, e até actores e tantos outros, todos os dias a emigrar. Emigração de luxo, emigração de sobrevivência, asilo fiscal, as várias faces de uma penosa realidade.

18/12/12

Pronúncia do Norte 14


16/12/12

Paternalismos

Quando disse aqui que achava que se perdia demasiado tempo a discutir Isabel Jonet, não fazia a mínima ideia do tempo que se iria ainda ‘perder’. Et pour cause; Isabel Jonet em período que requeria alguma descrição e ponderação nas palavras, por causa do turbilhão gerado pela sua entrevista televisiva, reincidiu, não soube ser discreta nem tão pouco estar calada. Sobre a polémica do que ela disse a propósito da caridade e do estado social faço minhas as palavras de JPP aqui. Não são, no entanto as suas palavras e polémica por elas gerada que me levam a escrever este post, mas sim a reacção de comentadores, colunistas, bloggers conotados com a direita, normalmente críticos, lúcidos, inteligentes, contundentes e pouco dados a reacções ‘grupais’. 

Nada como um debate mais acesso, para trazer ao de cima uma das características que mais abomino na direita, e que tem raízes fortes no catolicismo tal como vivido durante tantos séculos e que, infelizmente, ainda o é nalguns sectores: o paternalismo. Num debate que pode ser sobre o aborto, ou sobre a pobreza, ou outro tema de ordem moral, mais cedo ou mais tarde a “direita” acaba por ceder ao paternalismo. Senão vejamos o que diz hoje no Público Vasco Pulido Valente, um colunista crítico, mordaz, cínico, pouco dado a pensar pela cabeça de um ‘grupo’ ou da ‘direita’, a quem dificilmente colamos a etiqueta de paternalista: 

(…) Isabel Jonet, (…) é uma mulher estimável que, de repente, se viu metida no meio de um jornalismo espertalhão. Não sendo nem moralista, nem teóloga, nem política, falava com a maior inocência sobre si e o seu papel no Banco Alimentar, não lhe ocorrendo que se podia meter num sarilho ou suscitar uma polémica a cada palavra. Atravessou este pequeno tumulto com dignidade e boa fé. (No Público)

Para além de uns radicais de esquerda que questionam a boa fé de IJ ou o mérito social do seu trabalho no Banco Alimentar, vi apenas e exclusivamente ela ser criticado pelo que disse e pela oportunidade do que disse no contexto actual, dando às suas palavras a importância que elas merecem. Sim, IJ é uma mulher relevante no contexto da nossa sociedade, ainda mais em tempos austeros e difíceis. O que ela diz é relevante, e ela sabe-o certamente. Ter vindo a público novamente com explicações e declarações (entrevista ao jornal "i"), foi uma opção sua, certamente tomada de forma responsável como mulher responsável que parece ser. Declará-la vítima de “um jornalismo espertalhão”, e declará-la “inocente” ao falar sobre si e o seu papel no Banco Alimentar, é passar um atestado de imbecilidade a Isabel Jonet e menorizá-la enquanto pessoa e enquanto figura pública e de relevo na nossa sociedade. Ser condescendente e paternalista (machista também?) para com IJ e para com o que diz, é sobretudo desrespeitar o significado do que ela diz, desrespeitando-a também, ou desprezar o que diz ("não sendo moralista, nem teólogo, nem política", como se isso fosse condição para emitir opiniões), não lhe atribuindo importância ou relevo especial. Ser condescendente e paternalista é também interpretar livremente as intenções das suas entrevistas e das suas palavras (“não lhe ocorreu que se poderia meter num sarilho”, etc). 

Falar ou não, ceder ou não à tentação de se (re)explicar em entrevistas, é um direito que assiste a IJ, e tal direito deve ser olhado com respeito, nomeadamente dando às suas palavras todo o significado que as palavras têm. Sem mais. Argumentos do género ‘ela não tem jeito para dizer as coisas’, ou ‘ela não sabia no que se ia meter’, só a diminuem. Criticá-la pelo que ela diz não é menorizá-la, justificá-la com paternalismo, é. E é o que a ‘direita’ não se cansa de fazer: justificá-la...

Como se Isabel Jonet precisasse.

12/12/12

Amanhecer 37 (a 12/12/12)

12/12/12

11/12/12

Dois Filmes

Ted, um filme em que se perde o olhar inocente que ainda conseguimos ir mantendo perante um urso de peluche. Mas a coisa poderia ter corrido melhor – dessacralizar ursos de peluche, não é necessariamente uma má ideia, mas persistir naquela comédia de costumes (predominantemente ‘masculina’, mas que também já atinge o universo ‘feminino’) em que a adolescência se prolonga, quais pilhas Duracell, teimosamente para lá do normal e desejável, já cansa. Pelo menos cansa-me a mim, que deixei a adolescência faz muito. Também me cansa a constante que são as piadas escatológicas: é xixicócó (estou a ser branda, como saberá quem viu o filme) em variantes e tonalidades diversas a mais. Abram a janela, deixem entrar ar! Lamentavelmente, uma boa ideia que poderia ter dado um bom filme, mas não deu. 



Trouble With The Curve (Voltas da Vida, é uma tradução redutora), filme não realizado por Clint Eastwood, começa com um diálogo inesquecível que imediatamente nos reconcilia com o melhor (de) “Clint Eastwood”, essa personagem temperamental, de mal com a vida, zangado, teimoso que não gosta de envelhecer. Pensamos Grand Torino, e está-se bem... O filme prossegue, as personagens desenham-se, as situações desenrolam-se; os actores cumprem a sua missão, (Amy Adams é uma actriz  muito sólida), a narrativa flui com interesse, o filme é bom... mas nunca nos leva onde gostaríamos de ter ido, sentimos que ficam ainda locais por explorar nos recantos das personagens. Fica um sentimento de frustração por se ter visto um filme bom, quando pensamos que se poderia ter visto um filme muito bom.

06/12/12

Passado à História


O core do século XX a passar inexoravelmente à História e a deixar de vez de ser nosso.

Os Rolling Stones, daquela parte do séc XX que melhor conhecemos mas que não será necessariamente aquela que daqui a muitas gerações será lembrada como a mais emblemática, podem continuar a dar concertos que a realidade não deixa de ser o que é. A teimosia humana não consegue prender o que já foi. E o passado que ainda temos como presente, já não é. É mesmo passado; passado à História.

02/12/12

Coisas Que se Podem Fazer ao Domingo 72

Séc. 1 A.C.


O que é que sobra?

Disseram Reorganização Administrativa do Território?

Leio os jornais online sobre a reforma administrativa do território e fico sem perceber nada. 'Não perceber nada' começa a ser uma constante no contexto político dos anos recentes. Não percebia nada com José Sócrates, e o que percebia não gostava, e continuo ainda mais baralhada e confusa com este governo. No entanto José Sócrates tinha a “virtude”, do ponto de vista de quem quer perceber, e só, da sua determinação e teimosia. Não tinha uma ideia política consistente e sólida do que queria para o país, sobrava-lhe ambição e a dita determinação que se concretizava no anúncio de medidas, avulsas e díspares dia sim dia não. Percebíamos as medidas, percebíamos a intenção (explícita ou implícita), mesmo quando discordávamos – eu discordava, zangada e indignadamente, quase sempre, como qualquer passar de olhos pelos arquivos deste blogue confirma. 

Este governo consegue ser ainda mais confuso: tem um discurso redondo e parafraseando Marcelo Rebelo de Sousa, muito explicativo. Também não tem uma ideia política nem tão pouco uma visão com um mínimo de solidez para um país que cada vez mais se percebe que não conhece. As intenções do poder político, essas, continuam a perceber-se com demasiada facilidade, e as medidas não podiam ser mais confusas. Como referi: não percebo nada. Vejamos: 


Que é isso de “reorganização administrativa do território das freguesias”? Pode-se fazer isso sem ter as autarquias em consideração? Que reorganização administrativa começa a ser feita ‘por baixo’ em vez de ser feita ‘por cima’? Porque é que não há um projecto concreto (e não umas ideias confusas atiradas para a comunicação social) de reorganização administrativa global do território em vez de um projecto para freguesias e outro para autarquias. Porque é que se lêem títulos díspares e incoerentes nos jornais?


Ou: 


E já agora a propósito destas ‘agregações’ de autarquias, porque é que, de repente, se fala de agrupar a autarquia do Porto e de Vila Nova de Gaia na comunicação social? Anda a Comunicação Social, ou outros políticos com aspirações e ambições a fazer o frete a Luís Filipe Menezes? Quem nasceu e conhece o Porto sabe que o Porto é a margem norte do Douro e Gaia a margem sul do Douro, duas realidades tão díspares que espelham géneses e tradições que pouco se tocaram e que só a ignorância (ou outras agendas) que não as do Porto e de Gaia, pode pensá-las semelhantes. O Porto é urbano e burguês. Em Gaia há ainda redutos de agricultura, há um feeling de província, há freguesias pesqueiras, há praia e há zonas residenciais de qualidade. Se o turismo recente tem contribuído para uma maior aproximação das freguesias na parte em que quase se tocam – o Douro – esse tocar é só isso mesmo, nada mais. 

Talvez não fosse má ideia lembrar os fazedores destas ideias sem sentido que Porto e Gaia não são propriamente Paris com a sua Rive Droite e Rive Gauche, nem Londres atravessada pelo Tamisa ou Buda e Peste poeticamente separadas pelo Danúbio. Enxerguem-se, por favor!

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